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terça-feira, 15 de julho de 2025

Tarefa de uma escola pública do sexo feminino de Itacoatiara, bordada em ponto cruz de 1909.

 

 
Imagens 2 e 3, são meramente ilustrativas projetando o 
cenário da época, produzidas com tecnologia IA

A curto prazo, parece um bordado antigo comum, mas se trata de um tarefa escolar de uma escola pública do sexo feminino, produzida por uma aluna há 116 anos. A escola que na época era particular, portanto não era qualquer pessoa que podia frequentar. E funcionava no prédio onde hoje está sediada no 1º andar, a Academia Itacoatiarense de Letras Galeria de Artes e no 2º andar o Coletivo Cultural Galeria de Artes Terezinha Peixoto - julho de 1909, onde essa relíquia se encontra em exposição. 

Trata-se de uma prova da aluna SAPHIRA MACARIA DA SILVA, na época em que as mulheres se alfabetizavam somente para o básico, ler, escrever e aprender prendas do lar. Essa tarefa, trata-se de uma aplicação bordada a mão, com linha de maquina, em um pedaço de pano de saco de açúcar, apresentando uma moldura bordada com elementos decorativos da época, na parte superior o abecedário, bordado em letras maiúsculas, na primeira e última fila em letras góticas, na segunda fila o bordado apresenta o abecedário em letras cursivas, contendo a data de confecção da peça e o nome da aluna, tudo bordado meticulosamente em letras góticas, com a técnica do bordado em ponto cruz, cuja prática artística, já era praticada aquela altura, no município de Itacoatiara, no centro do pano amarelado pelo tempo, há uma abertura grande e duas pequenas, demonstrando o desgaste, causada pelo desfiamento natural e ataque das traças, caracterizando a notável antiguidade da peça. 


Demonstrando para que servia a educação escolar feminina daquele tempo, que na realidade era um complemento da educação doméstica, para que as mulheres estivessem aptas a ler e escrever o básico e bordar essas letras com os nomes de seus maridos e filhos, nas fronhas dos travesseiros, toalhas de banho e mesa. E nessas escolas, só estudavam mulheres, pois nesse tempo, meninos não se misturavam com meninas no ambiente escolar.

Um episódio marcante, que merece destaque a parte e que corrobora com a história desse histórico paninho bordado!

Des. Marinildes C. de Mendonça Lima
Na década de 90 do século passado, o prédio que teve usos orginalmente residencial, mas que ficou mais conhecido por ter sediado por muitos anos o antigo Departamento de Estradas e Rodagem do Amazonas / DER-AM, que depois de um tempo abandonado, foi restaurado pelo ex-prefeito Miron Fogaça, que após a reforma, o repassou a edificação para o TRE. E no dia de sua inauguração eu estava presente participando da cerimônia, onde assisti no referido ato inaugural, a saudosa itacoatiarense Desembargadora e Presidente do Tribunal de Justiça do Amazonas Marinildes Costeira de Mendonça Lima, que foi a primeira mulher a ocupar a presidência do Tribunal de Eleitoral do Amazonas e em seguida, também foi a primeira mulher a assumir a presidência do Tribunal de Justiça do Estado do Amazonas, bem como, foi a segunda mulher a tornar-se Desembargadora no país. Motivo que muito orgulho a população itacoatiarense! Que em seu discurso, a Dra. Marinildes declarou estar emocionada em participar do ato inaugural, pois estava muito emocionada, por estar de volta aquela casa, onde havia aprendido suas primeiras letras enquanto criança, ou seja, a desembargadora Marinildes, foi uma daquelas alunas da, quando o prédio sediou a escola pública do sexo feminino.

Vale ressaltar, que depois de um tempo, o TRE construiu sede uma nova e própria no bairro de São Francisco, ficando o prédio do centro novamente abandonado, que depois de mais uma década, em 2009, foi recuperado e instalado nele, a Academia Itacoatiarense de Letras e em seguida, a Galeria de Artes Terezinha Peixoto.

Nota-se como era machista o conceito de formação da época escolar, onde os homens tinham ascensão ao conhecimento mais completo e formal e as mulheres recebiam noções básicas para se dedicaram às prendas do lar.  

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